SEXTA-FEIRA, 27 DE MAIO DE 2011
O que as paredes escondem
Postado por Lívia Corbellari
A partir do livro “Arte Poética” de Aristóteles e da peça “A casa de Bernarda Alba” de García Lorca, o espetáculo “Bernada, por detrás das paredes” é montado. A mistura de dois livros tão distintos não é o único fato que chama a atenção na peça. Os únicos atores são Nicolas Corres Lopes e Roberta Portela, que emprestam seus corpos á nove personagens diferentes, nove mulheres.
A peça é encenada no “Espaço Coletivo Folgazões e Repertório”, um casarão da década de 50 no centro de Vitória. “A apresentação na casa é uma forma de chamar atenção para esse novo local de apresentação fora dos palcos”, explica o ator Nicolas. A peça começa no pátio da casa com os
dois atores cobertos com um pano fazendo um alvoroço e causando espanto no público.
Em seguida somos convidados a entrar e assistir ao espetáculo, que mesm
o baseado em uma obra que já foi interpretada diversas vezes oferece linguagens e narrativas surpreendentes. “Em ‘Bernarda, por detrás das paredes’ não falamos em dramaturgia, falamos em "dramaturgismo" que é um termo mais contemporâneo, já que faço uma colagem de textos de outros atores, teatrais e filosóficos, com textos meus e dos atores”, explica a dramaturga e
diretora da peça Nieve Matos.
Amizade e dedicação
Nicolas e Roberta estudaram na Universidade Federal de Ouro Preto e trabalham juntos desde 2004. Apesar da longa parceria, eles contam que a peça “Bernada por detrás das paredes” foi muito diferente de tudo que já fizeram e que a preparação foi longa.
“Até então eu só tinha trabalhado com a perspectiva de fazer o mesmo papel durante o espetáculo todo. Já em ‘Bernada’ há uma troca de personagens e tivemos que pensar na mudança de voz, no jeito de andar e em outros detalhes para que cada personagem tivesse uma vida própria e não confundisse o público”, diz Nicolas.
Para ambos a sensação de interpretar, apesar de ser a mesma peça durante três finais de semana, é sempre nova. “Cada apresentação para mim é como se fosse um encontro. A preparação e a resposta do público sempre geram resultados e impressões diferentes”, conta Roberta.
Metalinguagem
A narrativa da peça é interrompida várias vezes para citar Aristóteles ("Para que uma tragédia seja bela, ela precisar sofrer mudança da felicidade para a infelicidade"), ou como forma de digressão e metalinguagem. Porém, algumas vezes a “pausa” é para narrar a cena, pois em certos momentos há mais de 2 personagens no palco e o narrador precisa explicar onde eles estão e o que estão fazendo. A sonoplastia é feita ao vivo por músicos que ficam escondidos por trás das cortinas, com forte influencia espanhola e cigana.
Segundo Nieve Matos, o termo correto para as “pausas” é "narrativas épicas - dramáticas". Esse recurso (utilizado para gerar um "distanciamento" do espectador com a obra) é do Teatro Épico de Bertold Brecht. “Usamos isso para ilustrar os trechos da obra do Federico Garcia Lorca em que os elementos da tragédia aparecem”, diz Nieve.
Com patrocínio da Lei Rubem de Incentivo à Cultura, da Secretaria de Cultura de Vitória, a peça “Bernarda, por detrás das paredes” chega a sua segunda temporada, que se encerra neste final de semana. Para garantir seu lugar é preciso fazer uma reserva por email ou telefone antes, pois o espaço é reduzido e só há lugar para 30 pessoas.
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