Google Website Translator Gadget

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Peroás e Caramurus - Uma Saga da Ilha na Praia de Camburi

Recebi este material ontem (18/01/2010), do professor e dramaturgo Saulo Ribeiro. Muitos devem estar cientes que neste verão, tanto Vitória quanto Vila Velha, no Espírito Santo, montaram Tendas Culturais em algumas de suas principais praias. A de Vila Velha fica na Praia da Costa, enquanto a de Vitória fica na Praia de Camburi.

cartaz (2) Na Tenda Cultura da Praia de Camburi, vem acontecendo várias peças teatrais, como o infantil do Grupo Campanelli de Teatro, o espetáculo de rua da Cia. Folgazões, e agora chegou à vez de Peroás e Caramurus - Uma Saga da Ilha.

Este espetáculo, também de rua, vem nos contar um pouco da historia da cidade e sobre duas comunidades rivais, tudo por causa da estátua de São Benedito.

A direção do espetáculo é de Nieve Matos, que ao lado de Saulo Ribeiro, escreveu o roteiro, então nada melhor do que ambos para falar deste trabalho, que estará no dia 22/01/2010, as 19:00, no projeto Vitória Verão – O Agito da Ilha, alegrando àqueles que quiserem conhecer mais um pouco de nossa história, relatada através da arte cênica. Com vocês, agora Saulo Ribeiro e Nieve Matos. A todos, um bom espetáculo!

Peroás e Caramurus – Uma saga da Ilha

“O dia 28 de dezembro de 1832, festa de São Benedito, amanheceu chuvoso. A Irmandade do Santo padroeiro dos negros havia difundido grande devoção no povo capixaba. São Benedito era venerado no altar-mor da Capela da Ordem Terceira de São Francisco. Era guardião Frei Manoel de Santa Úrsula. A Fé remove montanhas; por isso, a Irmandade não temia tempo ameaçador. Mas Frei Santa Úrsula determinara que a procissão não se fizesse. Temperamental, gostava de ser obedecido. A Mesa da Confraria estava, porém, disposta ao sacrifício da intempérie para homenagear o padroeiro milagroso e querido. Ponderou a Frei Guardião. Discutiram, exaltaram-se. Frei Santa Úrsula, irredutível e prepotente, em meio aos protestos, mandou que os escravos do Convento atirassem pela janela à fora os castiçais e tochas da Irmandade. Estava terminada a festa, começara a luta.”

Serafim Derenze in Biografia de uma ilha

IMG_3809 Um fato real acorrido no Centro de Vitória. Um grupo de teatrólogos. E o desejo de difundir a cultura “fofocando” história pelas ruas de Vitória. Assim nasce este projeto de montagem e apresentações.

De autoria dos dramaturgos capixabas Saulo Ribeiro e Nieve Matos, o texto “Peroás e Caramurus – Uma saga da Ilha” conta sobre como surgiram às irmandades de “São Benedito do Rosário”, vulgo Peroás; e “São Benedito do Convento de São Francisco”, os Caramurus.

Sinopse da história:

IMG_3993 No século XIX, existia no centro de Vitória a “Irmandade Religiosa de São Benedito”, sediada no Convento de São Francisco. Nos festejos de fim de ano sempre saía pelas ruas da cidade à procissão de São Benedito, contando com numeroso público. Um dia, por causa de uma forte chuva, a procissão não saiu. Os irmãos ficaram revoltados e discutiram com o Frei que não havia autorizado a saída do santo que, por sua vez, os expulsou do Convento.

Indignados, os irmãos foram pedir abrigo na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, e ao perceberem que a imagem poderia não sair no próximo festejo, decidiram “furtar” São Benedito.

Com o furto da imagem surgiu a “Irmandade de São Benedito do Rosário”, nascendo também uma curiosa rixa com a irmandade que permaneceu no Convento, briga que perdurou até o início do século XX.

IMG_3825A irmandade do Convento de São Francisco adotou a cor verde e foi apelidada por sua adversária de Caramuru, um peixe parecido com cobra e muito agressivo. Os fieis do Convento, agora Caramurus, também deram um apelido para os da igreja do Rosário: Peroás. O motivo de tal apelido é que este era um peixe comum na época e de pouco valor comercial, tanto que era devolvido ao mar pelos pescadores.

A rivalidade era tão intensa que eles chegavam a usar a cor da irmandade rival nos seus calçados, simbolizando o gesto de pisar no oponente.

O fazer teatral

Na saga do processo de criação cênica, entramos no mar da ludicidade. Decodificamos a história real, amplificamos as ações dos atores, pensamos música enquanto partitura corporal, figurino como expansão do corpo.

Jogamos nossa rede no mar das praças de Vitória. E no arrastão da cena teatral pescamos mais que peroás e caramurus; pescamos o realismo fantástico e a estética barroca, a polifonia das vozes e dos instrumentos não-convencionais, a resignificação do espaço e dos objetos de cena, o dramático e o distanciamento atoral.

FICHA TÉCNICA

Direção: Nieve Matos

Dramaturgia: Nieve Matos e Saulo Ribeiro

Elenco: Cleverson Guerrera, Fabrícia Dias, Luíza Vitório, Nícolas Corres Lopes, Vanessa Biffon, Roberta Portela, Max Goldner e Josué Fernandes

Figurino: Antonio Apolinário

Concepção de Maquiagem: Nícolas Corres Lopes

Execução de Figurino: Ateliê Luz Divina

Assistente de Figurino: Fabrícia Dias

Direção de Produção: Saulo Ribeiro

Trilha Sonora: Edvan Freitas

Preparação Corporal: Cleverson Guerrera

Projeto Gráfico: Anaise Perrone

Fotografias: Ariny Bianchi

“Peroás e Caramurus” por Nieve Matos:

SOBRE O QUE FALA O ESPETÁCULO?

O espetáculo foi criado a partir de um fato real acontecido no século XIX no centro de Vitória. Depois do furto de São Benedito, que foi levado do Convento de São Francisco para a Igreja do Rosário surgiram duas irmandades religiosas rivais conhecidas como Peroás e Caramurus.

COMO FOI CRIADO O TEXTO?

A dramaturgia é  minha e do Saulo Ribeiro. Mas trabalhamos também com a dramaturgia em processo de criação, tem o dedo dos atores nos diálogos e na criação das personagens. Um fato curioso foi que depois de improvisar muito e definir os personagens descobrimos que algumas personas “inventamos” existiram realmente. Inclusive com os mesmos nomes que criamos, por exemplo, a Dona Maria Saraiva que era doceira.

O TEATRO DE RUA TEM UMA LINGUAGEM MUITO PRÓPRIA, COMO A DIREÇÃO TRABALHOU ESSA LINGUAGEM?

Apesar de o tema ser popular, buscamos fugir dos clichês da linguagem de rua. Na música usamos instrumentos não-convencionais, já no figurino abusamos da ludicidade, trabalhamos as sugestões das formas ao invés do figurino próximo do realista.  Já no trabalho com os atores trabalhamos a ação dramática em contra ponto com a distanciada.

Nenhum comentário: