Recentemente eu falei sobre o fechamento do Teatro Galpão e no fim do ano de 2009 falei sobre os problemas que o Teatro Edith Bulhões passava, antes de sua demolição em 2010. Os governos municipais e estaduais do Espírito Santo nada fazem para mudar ou mesmo melhorar isso e falo em todo o estado mesmo, pois vemos situações absurdas acontecendo.
Vitória, capital do Espírito Santo, deveria ser exemplo de investimento cultural em todo o estado, mas está atrás de muitas outras cidades, no que se fala sobre teatros.
Ontem (20/02/2011), eu coloquei aqui o texto escrito pelo diretor, ator e produtor José Luiz Gobbi, em duas partes, no Opiniões do Facebook, mas antes disso havia pedido para o ator, diretor e dramaturgo Wilson Nunes, escrever algumas palavras sobre o que vem ocorrendo com os nossos espaços e ele se disponibilizou com o maior prazer.
Eu respeito muito a opinião destes dois, com quem tive o prazer de trabalhar no teatro, um me dirigindo (Gobbi) e com o outro sendo assistente de produção (Wilson). Bem, deixo vocês com as palavras sinceras de Wilson Nunes (obrigado de coração, Wilson!)
VERGONHA HISTÓRICA E CULTURAL
É assustador ver o que está acontecendo !!! Muito mais que nossos espaços culturais, estão aniquilando a história cultural de uma cidade, de um estado.
Me lembro , no final dos anos 70 , quando passava pela avenida Jerônimo Monteiro e olhava para a Casa da Cultura onde também ficava o SATED (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão) e me imaginava atuando naquele espaço. Pensava : “Um dia estarei no palco da Casa da Cultura”. Os anos passaram e acabei fazendo ali um curso de Teoria do Teatro. Um palco gostoso, um espaço que era a cara do teatro capixaba. Pois é... Anos depois derrubaram este espaço de tantas histórias para dar lugar não sei a que, pois até hoje o terreno está as moscas por lá.
Ninguém falou nada ! Ninguém protestou. Mesmo sendo particular, teríamos que ter feito alguma coisa. Derrubaram um pedaço da nossa história !!! Arrancaram de nós um pedaço da história do teatro capixaba e “ninguém” fez nada .
Alguns anos depois alunos sem preparo cultural nenhum, em um vandalismo, mais uma vez assustador, quebram e aniquilam o Teatro Metrópolis (UFES).
O Teatro Metrópolis que no ano 2000 me amparou num momento que não sabia para onde ir com meu novo espetáculo – na época -: “Por Favor, Matem Minha Empregada”. Não tínhamos para onde ir com nosso espetáculo! Não tínhamos dinheiro para pagar outro teatro. Quando tive a idéia de entrar em cartaz no Metrópolis, muitos colegas me alertavam: “Está doido, Wilson ? Lá não vai ninguém“. Eu, como bom taurino e muito teimoso, entrei em cartaz neste espaço e o espetáculo se tornou um marco na cultura capixaba de público e crítica.
Fiquei três meses em cartaz com a casa lotada. Voltamos lá ainda com o espetáculo : “No tempo do Vinil”, que sem dúvida nenhuma é um marco divisor no nosso estado. Adorava aquele teatro! Mas destruíram ele sem nenhuma piedade e, mais uma vez, “ninguém fez nada”.
O tempo passou e sem respeito nenhum aos artistas que, dessa vez (Ufa ! Até que enfim!!!), clamaram para não derrubarem o Teatro Edith Bulhões, passaram, literalmente as máquinas do progresso em cima do apelo cultural e jogaram por terra aquele espaço que tantas histórias tinha guardado ali.
Agora fecham o Teatro Galpão por problemas de documentação. Ora... Todos nós sabemos que quando “eles” querem, há sempre um jeitinho para tudo. Bancos são salvos com o dinheiro do povo, quando “ELES” querem. Aumentos absurdos de salários acontecem, quando “ELES” querem . Parentes são nomeados, sem nenhuma qualificação para determinados cargos, quando “ELES” querem. Por que não salvar o Teatro Galpão, quando a nossa história precisa ser amparada? Por que não dar “aquela força” para os artistas locais, que não podem pagar aluguéis caríssimos de alguns teatros quando nós precisamos? POR QUÊ??? Sem estarmos refeitos da pancada na cultura que foi o fechamento do Teatro Galpão, ficamos sabendo por terceiros, pois nenhuma satisfação nos foi dada (até parece que fariam isso!), que o “abandonado” Teatro Carmélia foi interditado. Um teatro que abrigou vários espetáculos e que por falta de equipamentos, pois “ELES” deixaram o teatro sucateado e por falta de TOTAL segurança não podíamos mais entrar em cartaz lá. Muitos falam : “Por que vocês não vão para o Carlos Gomes?” Porque para entrarmos no Carlos Gomes , que é do governo estadual e mantido com o dinheiro do povo, nós temos que enfrentar num famigerado edital e pagar, “antecipadamente”, repito, “an-te-ci-pa-da-men-te” uma taxa de R$ 200,00 por dia e mesmo assim só temos direito a um final de semana . Entrar em temporada no NOSSO teatro, NÃO TEMOS DIREITO. Tem o Teatro Universitário (UFES) que pertence ao governo federal!!! Quem somos nós para entrarmos lá . Taxas exorbitantes são cobradas. Outros teatros existem, mas cobram diárias que não passam nem perto da nossa realidade. ESTAMOS SEM TETO CULTURAL E SEM APOIO NENHUM. Iremos nos calar, como sempre? A nossa história, a história de uma cidade e de um estado está sendo derrubada e manipulada sem respeito algum. Para onde iremos ??? Para rua ??? Acho que teremos que pagar flanelinhas para guardarem nossas vagas. Teremos dinheiro e apoio para isso???
Wilson Nunes - wilsontadeununes@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário