Expressar uma opinião é algo que nem sempre agrada a alguém ou mesmo satisfaz o ego da pessoa. Alguns acham que a expressão de uma palavra tem de ser sempre favorável aos trabalhos que ela realiza, mesmo que você não goste.
Eu convivo com a arte cênico-teatral desde que decidi fazer um curso de teatro na extinta Future Centro de Artes, em 1998, e de lá pra cá tenho visto peças teatrais e espetáculos do mais variados tipos e algumas vezes, desde que criei o blog em 2008, tenho expressado minha opinião (não sou muito aficionado a palavra crítica) sobre essas. Às vezes sou positivo e às vezes não gosto do que vejo. Não sou um especialista, pelo contrário, estou longe disso, mas sei o que me agrada ou não, e definitivamente o espetáculo “Rosa Negra” me agrada.
Não sei se é o formato semi-arena montado no palco do Teatro Galpão, se é a “pichação” em giz na parede do teatro feitas por Kênia Lyra e Iran Tattoo, se são as soluções cênicas para algumas cenas, se são as interpretações ou a iluminação ou a sonoplastia ou o texto cativante e que te prende do começo ao fim, sem cansar. Talvez seja um amalgama dessas coisas, pois eu gostei do que vi. A construção corporal de alguns atores, ficou fantástica, e aplaudo de pé para a atriz – e produtora do espetáculo – Luana Eva, que no entrega um anjo negro com muitas esquisitices, tanto no jeito de andar como no jeito de se portar. O mesmo digo para o ator – e criador dessa peça – Leandro Bacellar, que nos dá um demônio com cacoetes e um tom de voz gutural. Mas como sempre elogios mil para a atriz Nívia Carla, que surge como uma bruxa tensa e que faz você acreditar na sua velhice.
“Rosa Negra” é um espetáculo que foi agraciado – sabiamente – pela SECULT no Edital 006/2009 e está em cartaz no Teatro Galpão, até o dia 01/08/2010, com entrada franca, e talvez só tenha esta temporada (espero que não!). Nele é contada a história da população da Terra que após várias catástrofes e guerras, com a água envenenada, o solo infértil, não produzindo nada, decidiu sair do planeta e habitar um satélite artificial. Aqueles que ainda persistem é uma minoria que crê no nascimento da Rosa Negra, que irá redimir a todos e trazer vida novamente a Terra. Uma profetisa, que conhece bem a história, passa a todos a possibilidade de isso acontecer em breve, mas nem todos creem nela e pretendem abandonar o planeta, antes que ele seja completamente destruído. Enquanto isso, o céu e o inferno duelam para ver que será o vencedor, usando os humanos sobreviventes do planeta como peões de seu jogo.
O texto de Leandro Bacellar tem de tudo um pouco, ele é bíblico, é expressionista, realista, tem um toque de ficção científica e épico, e nos dá muito no que refletir.
As soluções cênicas são todas resolvidas com a iluminação, montada por Thiago Sales, e com um giz, tanto no fundo do palco, quanto durante o espetáculo. O constante duelo travado na peça entre um anjo e um demônio, me levou a lembrar de uma frase que eu trecho que li em um dos livros da autora Anne Rice sobre Deus e o Diabo conversando sobre a humanidade, decidindo que deveria viver e morrer, só que na peça temos uma sensual e mortal Morte, que deliberadamente, trabalho para o demônio.
Existem pontos a melhorar, com certeza, mas nada que comprometa este espetáculo, que demonstra uma força cênica do seu começo até o fim.
Com um trabalho como esse, eu tenho grande orgulho de dizer que sou capixaba e que nossos grupos, nossos atores, dramaturgos, produtores e todos que trabalham na arte “marginal” cênico-teatral do Espírito Santo sabem “fazer teatro”. Só tenho a agradecer ao Grupo Teatro Empório, a Leandro Bacellar, que escreveu essa maravilha de espetáculo, a Luana Eva, que sempre acreditou nos projetos do Leandro, ao grupo de atores que compõem esta maravilha cênica: Ramon Alcântara, Camila Bautz, Letícia Bianchi, Nívia Carla, Diego Carneiro, Werlesson Grassi, Cris Mascarenhas, Stace Mayka, Thiara Pagani, Diogo Reis, Tadeu Schneider e Henrique Três, ao iluminador Thiago Sales, que transformou o mapa de luz mais uma parte do espetáculo, aos artistas gráficos Kênia Lyra e Iran Tattoo, que fizeram de uma parede mais uma parte da cena deste trabalho, e a Diogo Reis, que nos disponibilizou um trailer atraente e único, no qual eu coloco aqui novamente:
Não percam Rosa Negra, em cartaz no Teatro Galpão (em frente ao Wallmart) nos dias 24, 25, 31 de julho e 01 de agosto, nos horários de 20h00 (aos sábados) e 19h00 (aos domingos), com entrada franca. Para evitar perder esse trabalho do Grupo Teatro Empório, compareça ao teatro uma hora antes para a retirada do ingresso e bom espetáculo!
5 comentários:
O problema não é o artista gostar ou não da sua opinião. Isso, sinceramente, não tem tanta importância. O problema de expressar a opinião de maneira imprudente é que você expõe a um público uma possível verdade. Entende? Querendo ou não, quando você coloca o nome de um blog de “teatro capixaba”, subentende-se que aqui seria um resumo do que há de teatro aqui no estado. André, acho esquisito você estar por diversas vezes ao meu lado nos ensaios, nas apresentações, na rua, no e-mail, Orkut, (...), necessitar vir até aqui e escrever publicamente sobre o meu personagem de forma negativa. Eu te pergunto: pra que? Eu posso parecer ridículo ou infantil ao vir aqui te questionar isso. As pessoas me disseram pra esquecer. Falaram que era birra sua... porque você que ia fazer o meu personagem. Pra mim isso pouco importa. A minha dúvida é se algum dia eu não te dei liberdade de chegar ao meu lado e dizer o que você acha, dar conselhos... Achei muita cara de pau sua, falar do meu personagem com tanta frieza. André, você que me ensinou a fumar charuto (do personagem). Você via como eu entrei seco nos ensaios. Impossível você só enxergar os meus defeitos. Vai me dizer que se ausentou no texto. Brincadeira, heim. Cara, eu me acho muito ruim, por isso, a cada apresentação eu tento melhorar o dobro, pq sempre acho ruim. Mas consigo ver evoluções e era pra você ter o mínimo de responsabilidade e ter pensado que poderia causar uma situação desagradável com um possível público meu, minha irmã (que leu), o pessoal do teatro. Sei lá, André, se você quer ser profissional e não escrever nada por amizade, aprenda. Aprenda a fazer crítica. Faça um curso de crítica e não de teatro. Ser crítico é ser ausente. Não nas sensações, não nas percepções, não nas interpretações,... É ser ausente de arrogância. Quando você faz uma critica negativa a alguma obra de arte ou artista, não se faz construtivo. Não adianta. Não há contribuição do crítico na obra. O crítico é um mero descompactador, um simples tradutor de símbolos e signos. Você só tem que destrinchar a intenção do autor para o público, se assim conseguir. O crítico não interfere na obra. Não adianta dar conselhos. André, a obra, a arte, quando o crítico a enxerga, já foi. Entende, cara? Criticar uma arte não é escrever em um diário. Criticar é decodificar intenções. Grave isso. Criticar é decodificar. Se por acaso você quiser expressar algo que te incomoda muito em uma obra, peça para o público uma ajuda. Quando algo nos incomoda é porque não somos capazes de compreender. Cara, e não pense que eu fiquei pensando nisso esse tempo todo não. Na verdade eu já havia esquecido. Mas lendo aqui o texto que vc fez do Rosa, com essa introdução defensiva, me fez lembrar. Eu podia mandar isso por e-mail. Mas como eu acho que vc ia dizer: “É o meu trabalho, Marcos” Achei mais justo me expor novamente. Até pq quem vai ler isso aqui, na verdade é vc. Só você, colega.
Nossa, dei uma passada de olho no que acabei de escrever, parece realmente que eu fiquei chateado. Olha, eu fiquei foi decepcionado com o seu texto. A sua forma de expressar sobre o Boulevard, não só sobre o “Jam”. Achei distante, raso. Perdeu a chance de escrever um texto revelador. Você sabia todos os nossos segredos. André: deu mole!
Parabéns ao Rosa Negra e ao GTE. Gente, a Stace está impagável.
Marcos Luppi
Quando eu escrevi sobre a peça "Boulevard, 83" durante o Festival Nacional de Teatro "Cidade de Vitória", a primeira coisa que veio a minha cabeça foi: "As pessoas acharam que estou com despeito, pois não sou eu fazendo a personagem Jam Montola!", mas preferi deixar de lado e pensei que as pessoas seriam sufucientemente adultas para entender que não sou o dono da verdade e que, como sempre digo, estava a expressar minha opinião.
Primeiro vamos esclarecer um coisa, eu NÃO quis fazer a personagem Jam Montola em "Boulervard, 83"! Não me senti bem fazendo a personagem, por isso deixei de lado. Quando continuei junto ao Grupo Teatro Empório, foi no intuito de tentar ajudar no que pudesse, tanto que como foi dito acima (ou abaixo, dependendo de onde ficar esta postagem), eu TENTEI ajudar na composição da personagem da melhor forma que eu pude, não somente em "aprender" a fumar charuto, mas também na postura em cena, só que tudo que eu falava entrava por um ouvido e saía pelo outro... Fazer o que! Não tenho rancores com o Grupo, pelo contrário, gosto muito de todos eles, sem exceções, pena que não é reciproco. Sai, pois não me via funcionando ali dentro, pois todos têm um jeito, um estilo diferente do meu, quando isso acontece, ou nos adaptamos ou caimos fora, como foi o meu caso.
A minha... Crítica a "Boulervard, 83" era na forma caricaturada em que foi desenvolvido a personagem Jam Montola, seu modo de falar charlatanesco, um gesticular marcado, nenhum pouco natural. Sim, com certeza eu fui raso na minha avaliação, pois eu não tenho curso de crítico (que deveria ter feito na primeira oportunidade que a Fafi abriu!) e nunca me coloquei como um, apesar de saber que quando coloco algo no blog vai ser visto uma crítica.
Nunca tentei menosprezar o trabalho de nenhum ator em cena, pelo contrário, tento perceber algo que eles podem notar e talvez melhorar. Se a pessoa vai levar em consideração ou não, é com ela.
Sim, com certeza o que foi escrito pareceu muito rancor, assim como o que você escrevera no seu blog.
Se você se acha um "muito ruim", é o caso - se quiser - de fazer um curso ou mesmo pedir a alguns dos seus colegas - e amigos, acredito eu - a lhe ajudar a melhorar. Tudo só depende do empenho e da determinação de cada um.
Eu não pontuei acontecimentos internos, apesar de conviver por algum tempo com o Grupo, pois isso não é necessário, são assuntos internos. As dificuldades, as dicussões e outros assuntos que só são do interesse do Grupo, devem permanecer no Grupo.
Nunca me pronunciei como crítico, apesar de saber estar sendo, pois nunca me achei capacitado para tal. Eu falo do que gosto e do que não gosto, somente. Não obrigo as pessoas a concordarem com a minha opinião. Eu sempre recomendei "Boulevard, 83", mas com restrições, ao contrário do que faço agora com "Rosa Negra", que não vejo nada que possa prejudicar o andar do espetáculo.
Sinceramente, eu não escrevi a introdução como uma defesa ou algo assim, mas sim como um desabafo, pois sempre vejo uma necessidade de pontuar o que eu sou e como eu ajo. Mais sincero ainda, Luppi (me direcionando a você agora!), eu esperava que com o que eu falei no blog, (já que pessoalmente você não dava a minima pra minha opinião, pois sempre persistia nos erros que eu tentava ajudá-lo durante os ensaios) ajudasse-o a crescer, a me mostrar que eu estava errado. Só que você preferiu se sentir ofendido do que tentar uma melhor abordagem da personagem, que tinha tudo para roubar a cena como antagonista da peça. Uma pena isso!
P.S.: Eu pensei muito em não responder a este seu post, mas como sei que não serei o único a ler, precisava me justificar, assim como lhe dou liberdade para fazê-lo, se assim desejar.
André, eu ñ tive rancor do que você escreveu. Foi só decepção e surpresa. Se em algum momento, durante os seus conselhos eu pareci ñ me interessar, perdoe-me. Não foi a intenção. Você me fez repensar, mas não precisava ser desta maneira. Só isso.
Uau! hauahua
Ok, Stace está ótima, Nívia também, Luana nem se fala!
Gostei muito do Rosa Negra! Quase tanto quanto do Boulevard (quem me conhece, sabe que é muita coisa rsrs)
Enfim, adorei!
Ouvi falar de "Rosa Negra" há alguns meses quando, empolgadíssimo, Werlesson Grassi me disse estar se preparando para um novo espetáculo. No último domingo fui ao teatro Galpão conferir a estória de um povo que, literalmente, se arrasta em um futuro devastado, à espera do nascimento daquele ou daquilo que os venha livrar dos sofrimentos de um mundo pós-apocalíptico. Á primeira vista, encantam os grafismos em giz e os figurinos. Também é curiosa a disposição da platéia numa formação de arena e a trilha sonora. Bastaram alguns minutos para saber que não tinha ido assistir a um espetáculo comum. Permeado de referências bíblicas, épicas e impressionistas, "Rosa Negra" vai tomando forma nas mãos de um elenco jovem e competente que sabe usar a união para suprir pequenos deslizes de uma montagem estreante. Em pouco tempo me senti absorto numa estória coerente e que poderia ser triste, não fosse a maestria de seu espetacular elenco em inserir comicidade à dor, às tristezas e até à morte (espetacular a morte). Também é digna de nota a iluminação de Thiago Sales, que parece saber como ninguém o momento de fazer o público acreditar que velas de uma embarcação estão sendo içadas num espaço de vinte e poucos metros quadrados. Fora o encantamento pela plástica de "Rosa Negra", fui, ainda, levado pelo autor à dualidade de sua proposta. Neste sentido, o mal não é apenas ruim, o bom não é o que parece e o conceito de bem e mal, luz e trevas, revelam o peso do espetáculo como ausência, e não como não-leveza. Tal qual Milan Kundera em a "Insustentável Leveza do Ser", "Rosa Negra" desloca a dualidade do peso e da leveza para uma perspectiva existencial, mesclando-a ao problema da liberdade humana em uma perspectiva próxima à problemática do existencialismo. A leveza se segue do não comprometimento e do não engajamento de alguns personagens com a luta que se trava pelo bem e o peso se ilustra pelo comprometimento com a liberdade personificada pelos bons da estória. A leveza, porém, despe a vida de seu sentido. O peso do comprometimento é uma âncora que finca a vida a uma razão de ser, qualquer, que se constrói - sob uma perspectiva existencialista, evidentemente. Insustentáveis pesos e levezas afora, parabéns ao elenco, parabéns ao Leandro Bacellar por ter feito de "Boulevard 83" uma verdadeira escola de grandes atores. Parabéns ao Werlesson Grassi que consegue construir o único personagem não caricato e, ainda assim, transitar entre todos com uma pureza ímpar. Parabéns à Nivia Carla pela profetisa sem exageros, parabéns ao Tadeu Schneider por cenas que tão cedo vão sair do imaginário e parabéns à todo o elenco que faz de "Rosa Negra" um espetáculo para se correr Brasil afora e mostrar que aqui se faz teatro de qualidade.
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