É sempre dificil se falar de teatro, sem se esquecer de vários atores, produtores, diretores e vários outros que sempre auxiliam no cenário cênico, seja em palco ou fora dele. Hoje, dia 27 de março, é o Dia Mundial do Teatro e como o blog fala exatamente sobre a arte de atuar, interpretar, preparei um texto sobre o cenário teatral capixaba, a partir do momento que adentrei nessa área, ou melhor, desde 1999. Lógico que terminarei esquecendo de mencionar os vários diretores que tiveram trabalhos antes dessa época, mas acreditem que tento de alguma forma homenagear o nosso teatro da melhor forma possível. Então, vamos ao texto:
Hoje, dia 27 de março, é comemorado o Dia Mundial do Teatro. Esse dia surgiu em Viena/Áustria, durante o 9° Congresso do Instituto Internacional de Teatro, órgão da Unesco. A data assinala a inauguração das temporadas internacionais no Teatro das Nações, em Paris, iniciadas em 1954 e cujo 1° Festival Internacional foi realizado em 1957. Desde então o Instituto Internacional do Teatro manda mensagem aos países integrantes das Nações Unidas.
Bem, com essa introdução eu digo que o teatro capixaba tem muito o que comemorar.
Apesar de sempre ter tido espetáculos e dois festivais acontecendo dentro do estado, o teatro do Espírito Santo, desde 1999, quando a Escola de Teatro e Dança Fafi formou sua primeira turma de Qualificação Profissional em Teatro, com a peça “Se Correr o Bicho, Se Ficar o Bicho Come”, de Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar, com direção de José Luiz Gobbi, tem vivido muitos bons momentos.
Dessa primeira turma, muitos ainda trabalham com teatro, dentre eles Gecimar Lima (ator, diretor, fundador do Clã de Teatro), Fabio Samora (ator, produtor, fundador do Clã de Teatro), Daniel Boone (ator do Grupo Z de Teatro), Mara Nogueira (atriz, fundadora do Clã de Teatro) e Miguel Filho (ator, colunista da Cenário, do site Folha Vitória). Eles ainda decidem montar, com o diretor Robson de Paula, a peça “A Grande Estiagem” de Isaac Goldim Filho, mas se vêem tendo de adiá-la até 2002, mas durante este longo período muitas coisas vieram a acontecer.
A segunda turma de Qualificação Profissional em Teatro começava a se formar e já destacava também alguns alunos, alguns deles foram até chamados pelo diretor Robson de Paula para atuar na peça “Será Que Dá Pra Nascer de Novo”.
O diretor Robson de Paula é um grande fomentador do teatro capixaba. Desde 1978, quando começou a trabalhar com o diretor e mestre em Ciência da Arte Renato Saudino, como ator, já interpretava peça de grandes nomes como Maria Clara Machado e Frederico Garcia Lorca, quando se tornou diretor, sempre prezou por trabalhos de qualidade, montando peças com atrizes do gabarito de Inácia Freitas, Alcione Dias e Geiza Ramos, então não podia ser menos o que viria a fazer com a peça de Anilton Trancoso.
Fabiane Simões (atriz), Fred Pacífico (fotógrafo free-lancer internacional), Giovanna Voig (bailarina), Gleison Dutra (iluminador e sonoplasta), Leonardo Patrocínio (ator, diretor, professor da Escola de Teatro e Dança Fafi), Lilian Menenguci (diretora da Escola de Teatro e Dança Fafi, atriz, fundadora do Clã de Teatro) e Roberto Ferrante (ator, diretor, coordenador da Eventos Culturais da SEMC), eram os alunos que faziam parte do elenco. No mesmo ano, eles – com exceção da bailarina Giovanna Voig –, junto com seus colegas de classe, finalizaram montaram o trabalho chamado “Caixa Preta”, onde faziam expressões corporais, sobre a direção do bailarino e professor de expressão corporal Marcelo Ferreira. No final do primeiro ano, montaram também a peça “Os Pequenos Burgueses” de Máximo Gorki, com direção de José Luiz Gobbi.
Gobbi, ator desde 1958 e diretor de grandes sucessos, dentre eles “O Casamento Suspeitoso” de Ariano Suassuna, imortalizou a personagem Marly, de Milson Henriques, nos palcos de Vitória. Como professor de Interpretação Teatral e Prática de Montagem, da Escola de Teatro e Dança Fafi, realizou trabalhos como “Universo Nelson Rodrigues”, onde os alunos da escola montaram esquetes de peças do escritor Nelson Rodrigues. Destaque para os alunos Gleison Dutra, que “amarrava” as esquetes com uma personagem pra lá de andrógina, Roberto Ferrante, Geane Ferreira e Julio Barros, que montaram uma esquete com trechos da peça “A Mulher Sem Pecado”, Josi Ottoni e Criso Ghisolfi que fizeram um trecho de “Bonitinha, Porém Ordinária” e Fabiane Simões, Fred Pacífico, Leonardo Patrocínio e Lilian Menenguci, que montaram a peça de um ato só “A Serpente”. O trabalho fez tanto sucesso que foi chamado para ser reapresentado novamente. Neste ínterim, o professor de Expressão corporal, o bailarino Marcelo Ferreira, elabora uma montagem da peça “Toda Nudez Será Castigada” de Nelson Rodrigues.
Marcelo Ferreira, bailarino autodidata, com vários trabalhos expressionistas, sempre monta espetáculos com grande exigência de um trabalho corporal. Na Fafi, ele foi professor de Expressão Corporal de teatro e dança e montou, com a primeira turma de Qualificação Profissional, Kafka, e com a segunda turma “Toda Nudez Será Castigada”, sem contar seus inúmeros trabalhos no palco, dentre eles “Godot”, que contou com sua direção, e “Nosferatu”, cuja brilhante atuação foi elogiadíssima.
Mas o crescimento do teatro não ficou somente para dentro dos portões da Fafi. O Grupo Z de Teatro, cujo seus remanescentes são a bailarina, atriz e iluminadora Carla Van Den Bergen, o diretor, escritor e ator Fernando Marques e o ator Daniel Boone, desenvolvem os mais variados tipos de trabalhos, em sua maioria com textos do próprio Fernando Marques. Desde o espetáculo “ETC e Tal”, o grupo tem mostrado que seus trabalhos merecem o respeito dos outros atores capixabas. No currículo do Grupo estão os trabalhos de rua “ETC e Tal”, “A Saga de Filó Perniciosa e Brás Língua de Veludo” e “Commedia”, e no palco o monólogo “Olhos de Ver”, no qual a atuação de Daniel Boone, com o texto de Fernando Marques, recebeu muitos elogios.
Voltando na Fafi, a segunda turma de Qualificação Profissional em Teatro se formou com o espetáculo “O Casamento Suspeitoso” de Ariano Suassuna, com direção de José Luiz Gobbi. Os atores formados seguiram seus caminhos participando de espetáculos que surgiam no ano de 2002. O Grupo Z de Teatro integrava ao seu grupo o ator Leonardo Patrocínio, enquanto as atrizes Fabiane Simões, Lilian Menenguci, e os atores Gleison Dutra e Julio Barros, se juntavam aos atores formados da primeira turma para montar a peça “A Grande Estiagem” de Isaac Goldim Filho, com direção de Gecimar Lima, e a atriz Josi Ottoni se juntava ao elenco de “No Tempo do Vinil” de Jovany Sales Rey, com direção de Wilson Nunes.
Wilson Nunes trabalha começou no teatro como ator, em 1983. Completamente autodidata, desenvolveu seu trabalho através da paixão pelo meio cênico e se tornou um dos diretores mais queridos e prestigiados do meio. Dirigiu, para o aniversário de 450 anos de Vitória, esquetes escritas por Milson Henriques, dando destaque a esquete “Dona Domingas”, interpretada por Léia Rodrigues (atriz), Higor Campagnaro (ator) que interpretava o Espírito Santo e fazia o mediador das esquetes e Lilian Menenguci, que sou dar um tom divertido e cômico a Maria Ortiz.
A atriz Léia Rodrigues, na época em que interpretou Dona Domingas, era aluna da terceira turma de Qualificação Profissional em Teatro. Nessa turma, vale o destaque para ela, Vander Ildefonso (ator, jornalista, mestre em teatro), Nívia Carla (atriz, cantora), Nane Ramos (atriz, cantora) e Bianca Pimenta (atriz, produtora), que tiveram trabalhos elogiados durante seus períodos como alunos da Fafi.
A terceira turma da Fafi, finalizou seu primeiro ano com o espetáculo “A Mente Capta”, de Mauro Rasi, com direção de Claudia Puget. Já no seu segundo ano, eles finalizaram com a peça “O Dia Em Que John Lennon Morreu” de Ricardo Linhares, com direção de José Luiz Gobbi. Alguns alunos dessa turma seguiram como atores, dentre eles, Léia Rodrigues e Nane Ramos, que trabalharam com o diretor Wilson Nunes novamente, na peça “No Tempo do Vinil”, e continuaram com o diretor trabalhando em “Romeu E Julieta” de William Shakespeare. O ator Vander Ildefonso, que já trabalhava com teatro antes no Grupo de Teatro Hiante, e a atriz Nívia Carla, iniciaram um trabalho com o diretor Rodrigo Sabará para a montagem do espetáculo “Lucrecia, O Veneno dos Bórgia” de Paulo César Coutinho. No elenco ainda tinham ex-alunos da Fafi, André Lobo (ator, professor) e André Luz, e Mauro Marques (ator, dançarino, membro do Grupo Homem de Dança), que começava a iniciar seu aprendizado na Fafi.
Durante a mesma época de “O Casamento Suspeitoso”, um novo tipo de espetáculo acontecia em Vitória, teatro interativo. In Sanatório, dirigido e escrito por Pablo Cruces, trazia um novo estilo de trabalho para o cenário cênico capixaba, onde o público participava do que acontecia dentro de um manicômio. No elenco, vale destaque para Wilton Bastos (ator, diretor, fundador do Grupo Anjos do Palco), Karina Assunção (atriz, produtora, criadora do Festival de Esquetes do Espírito Santo) e Letícia Braga (atriz, fundadora do Grupo Multicriador de Teatro Feira, no Rio de Janeiro)
A Fafi continuou formando novos atores e atrizes, dentre os destaques temos Daiana Scaramussa (atriz, artista plástica), Charlaine Rodrigues (atriz, assessora de imprensa, fundadora do Clã de Teatro), Wilton Bastos e Mauro Marques.
Vendo o espaço crescer na cidade, diretores, produtores e atores que eram de fora do estado, começaram a visualizar uma abertura para suas idéias, e assim surgiu a Cia. De Teatro Experimental, fundada pela atriz e produtora mineira Priscilla Poeta, com o diretor e escritor carioca Marcio Zatta a frente dos espetáculos, em 2006, surgiram as peças “Apocalipse”, “Mulheres de Nelson” e “A Árvore e a Menina da Janela” de Izaac Erder, “Hoje Tem Espetáculo” de Marcio Zatta, “Sonhos de Uma Noite de Verão” de William Shakespeare, “Kadr” e “O Casamento” de José de Alencar. Lógico que a velha-guarda do teatro capixaba não podia ficar atrás e surgiu com trabalhos deslumbrantes. Assim aconteceu com o ator, diretor e proprietário do Teatro Galpão José Augusto Loureiro e o ator e diretor Ednardo Pinheiro. Sob direção de Claudia Marriel, entrou em cartaz, nos fundos do teatro Galpão, a peça “Os Coveiros” de Bosco Brasil.
José Augusto Loureiro está trabalhando com teatro desde 1965, quando começou no Teatro Arena (Grupo Geração). Fazendo diversos trabalhos como ator e diretor, ele foi um dos grandes inovadores ao comprar o que hoje é o Teatro Galpão, onde ele criou um espaço para paresentações de espetáculos de vários tipos.
José Luiz Gobbi e Milson Henriques retornaram também com Marly em "Hello Creuzodete IV, Finalmente Alguém Comeu!", no elenco eles contavam com o próprio Gobbi, Fabiane Simões, Bruno Milanez, Thaís Simonassi e Jonas Mota.
Milson Henriques é um ícone do teatro capixaba. Carioca de origem, mas capixaba de coração, Milson chegou em Vitória em 1964 e trouxe consigo uma bagagem de desenhista, escritor, diretor, produtor e ator. Como vários outros, ele é autodidata e quando começou a escrever para o teatro, foi perseguido pelo regime militar, que pegava suas peças e mandava para Brasília, onde a censura autorizava ou não suas encenações. Um bom exemplo foi a peça "Como Conquistar um Coronel Sem Fazer Força", que quase não teve permissão , fazendo-o escrever o subtítulo "Vitória Não Tem Nada A Ver Com A Estória". Milson criou o personagem de cartum Marly, uma solteirona que fofocava com a amiga Creuzodete, pelo telefone, reclamando de ser solteirona. Em 1992, ele decidiu escrever o primeiro "Hello Creuzodete" e chamou José Luiz Gobbi para viver o personagem. Em 1995, lançou "Hello Creuzodete II - A Missão" e em 1998, lançou "Hello Creuzodete III - A Perereca da Marly", nessas duas novas parte contou também com Wilson Nunes, vivendo Creuzodete. Milson Henriques também escreveu peças com um tom dramático, o melhor exemplo era "A Tímida Luz de Vela das Últimas Esperanças", com André Lobo e Geiza Ramos. Sempre prestigiou trabalhos para as crianças, fazendo livros e trabalhando em um programa infantil num canal local. Ele escreveu para o teatro "O Boom da Poluição", que ensinava as crianças o respeito pela natureza.
Indo na onda de novos grupos teatrais, Celso Cavalieri e Anderson Lima montam um grupo que interpretará peças dirigidas e produzidas pelos dois. A primeira foi o musical "Sexo, Drogas e Rock'n Roll", no qual eles mudaram o título da peça "Sonho Dourado" de Marcelo Caridade e Marcelo Lino, no elenco vale o destaque para Nívia Carla, Dayana Cordeiro (atriz), Mendelson Pezzin(ator) e Stael Mageski(atriz, dançarina, artesã). Depois dessa peça, José Celso Cavalieri e Anderson Lima montaram várias outras, no mesmo tom juvenil ou com assuntos mais adultos, sem contar a 1ª Mostra Unida de Teatro, com várias peças dirigdas pelos dois (em breve falarei sobre isso).
Houve também um grande crescimento dos festivais nacionais dentro do Espírito Santo. Além do Festival de Teatro de São Mateus, em 1998, Vitória lança O Festival Nacional de Monólogos e em 2000, Guaçuí lança o Festival Nacional de Teatro da cidade, ajudando ainda mais no crescimento de grupos e espetáculos de teatro com qualidade, para concorrer com os que vinham de fora. Seguindo essa idéia, a produtora e atriz Karina Assunção decide criar, com Taíssa Weigert e Reginaldo Almeida, o Festival Amador de Esquetes do Espírito Santo, no Teatro Municipal de Vila Velha. Vendo que a idéia chamou atenção de vários atores, o nome do festival mudou para Festival de Esquetes do Espírito Santo e já vai entrar na sua sexta edição. A Prefeitura de Vitória se desfez, em 2005, do Festival de Monólogos e começou o Festival Nacional de Teatro da Cidade de Vitória, que em 2008, irá para sua quarta edição. Nunca podemos esquecer que o teatro infantil também tem sua edição de festival. Iniciado em 1999, pelo diretor e ator Alvarito Mendes Filho e organizado pela Alfa Produções e Eventos, o Festival de Teatro Infantil do Espírito Santo sempre trás as peças infantis com grande destaque nos melhores teatros da Região Metropolitana de Vitória.
Em 2007, várias peças tiveram grande destaque. O Clã de Teatro surge com a peça "O Pássaro Azul" de Maurice Maeterlinck, no elenco temos Alaíde Antunes, Cácio Menegueti, Charlaine Rodrigues, Christiane Barcellos, Daiana Scaramussa, Daniely Sales, Eduardo Rosado, Eneidis Ribeiro (atriz, fundadora do Clã de Teatro), Fabio Samora, Lucas Ribeiro, Jorge Luiz Mies, Josi Varejão, Mara Nogueira, Marcelo Linhares, Maria Dalva Sobrinho, Viviane Silva Ribeiro e Sonia Fontes (atriz, jornalista). Ednardo Ribeiro, José Augusto Loureiro, Cleverson Guerrera e Otoniel Cibien, surgem com a direção de Margareth Galvão, com o espetáculo "Os Cegos ou O Sábio, de Flanders", escrito pela diretora. Também o Grupo Taruíras Mutantes monta a peça "Um Forte Cheiro A Maçã " de Pedro Eiras, sobre direção de Luís Tadeu Teixeira, que teve como destaque a atriz Maura Moschen, que retorna aos palcos depois de anos afastada, devido aos cursos teatrais que administra, e os atores Higor Campagnaro e André Lobo, que está fantástico no seu personagem.
Além da Lei Rouanet, o estado do Espírito Santo possui suas leis de Incentivo Cultural. Vitória iniciou, em 1999, um Processo de Incentivo Cultural com a Lei Rubem Braga. Com isso, peças teatrais e outras áreas da cultura de Vitória, poderiam receber bônus e trocá-los com as empresas da cidade de Vitória, que teriam seus impostos deduzidos. Já no mesmo ano, Serra também iniciou seu processo de incentivo cultural com a Lei Chico Prego, facilitando o teatro capixaba a desenvolver seus espetáculos. A Chico Prego é mais extensa que a Rubem Braga, pois qualquer grupo ou mesmo diretor da Região Metropolitana, poderia inscrever seu trabalho. No ano de 2005, Cariacica instituiu a Lei João Bananeira, com a mesma intenção de fomentação cultural na Região Metropolitana. Já no começo do ano de 2008, foi a vez de Vila Velha criar sua lei de incentivo cultural. A Lei Vila Velha Cultura e Arte trás aos capixabas mais uma possibilidade de ter seus espetáculos atuando nos seus palcos.
P.S.: Como eu disse antes, se esqueci algum ator, diretor ou produtor, por favor me perdoem, pois o universo teatral capixaba é tão extenso, que seria quase impossível citar a todos. Um arte cênica que se iniciou no estado com o Padre José de Anchieta (valeu pela informação, Vander!), na intenção de catequizar os índios através de peças teatrais, nosso acervo histórico é o mais antigo do Brasil. Obrigado a Wilson Nunes, José Luiz Gobbi, Vander Ildefonso, Nívia Carla, Roberto Ferrante, Robson de Paula, Léia Rodrigues e Leonardo Patrocínio, pelas informações que me foram passados. MERDA!
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