Sei que ando bem afastado do blog, mas o estudos têm sugado minha vida, não me dando tempo de atualiza-lo constantemente. Como uma grande maioria sabe, faço isso sozinho, então peço desculpas a todos pela falta de atualização, mas como hoje é um dia duplamente importante para mim, pois além de ser o dia do historiador, é o dia do ator, também. E como não poderia deixar passar em branco, deixo para os meus amigos e colegas atores uma mensagem do ator e escritor Antonio Calloni.
Calloni iniciou sua vida profissional no teatro em 1980, após passar pelo Curso Profissionalizante Célia Helena e fazer um curso no Centro de Pesquisas Teatrais, sob direção de Antunes Filho. Seu primeiro trabalho foi “A barra do jovem”, com direção de Célia Helena. E de lá pra cá, fez trabalhos no teatro, no cinema e na televisão, além de escrever livros. O texto que segue abaixo foi inicialmente publicado no blog de Patrícia Kogut, mas já divulgado por vários sites (inclusive o do próprio Calloni) e agora disponibilizo no blog Teatro Capixaba. Então fica aqui meu desejo de felicidade àqueles que encantam os palcos do Brasil e do mundo com os personagens que nos fazem imaginar e viajar em belas histórias.
Antonio Calloni escreve texto em homenagem ao Dia do Ator
Antonio Calloni, que também é poeta, escreveu especialmente para o blog da Patrícia Kogut homenageando os atores. Hoje (19/8/12) é o Dia do Ator. Confira.
Ser ator é realmente uma profissão de maluco, fascinante. A poética do ridículo, o brincar de faz de conta, o infindável universo onírico infantil e a tremenda cara de pau fazem com que os atores encantem os que os assistem e sonham junto com eles - pelo seu poder de transgressão, pela sedução, pelo poder de conscientização, pela capacidade de simplesmente entreter e pela mágica de poder ser quase todo mundo.
Lemos Diderot, Stanislavsky, Grotovsky, Meyerhold, D. T. Suzuki e uma infinidade de outros livros (todos fundamentais). Ouvimos muita música clássica para apurarmos nossa noção de ritmo, de cor, de intensidade. Ouvimos samba, pagode, MPB, música sertaneja e o diabo a quatro, graças ao bom Deus. Graças à obrigatória falta de preconceito para ver e viver a vida como ela é (obrigado, grande Nelson!) e poder reproduzi-la, e, melhor ainda, recriá-la como uma pintura, que quase sempre é mais rica do que uma foto. Vemos (com o corpo inteiro) pinturas de Bosch, Goya, Velázquez, Max Ernst, para tentar compreender alguns mistérios da vida, para provocar nossos sonhos ou, para nada. Só para ver mesmo. Que bom!
Conversamos com o Zé que vende coco no quiosque da praia e notamos um gesto diferente, um ritmo novo, outras possibilidades de comportamento e de comunhão com a vida. Observamos sem pensar. Viva o Zé! Precisamos dele. E depois colocamos uma armadura e dizemos que somos cavaleiros da Távora Redonda, dizemos que somos bons, que somos maus, que somos bons e maus, que somos gente. É uma profissão que deveria se iniciar logo que a pessoa começasse a falar e a ler, e terminar no início da adolescência, já que os adolescentes têm verdadeiro horror a pagar mico. Mas não... o maravilhoso complexo de Peter Pan nos acompanha pelo resto da vida e passamos a nos comportar como crianças relativamente adultas. E aí entra a poética do tempo que estará sempre a nosso favor.
Fazer um bom trabalho de ator é sempre muito arriscado, mesmo que o personagem seja comum, simples, cotidiano. É mais arriscado ainda. É raro, mas acontece de se ver um ator dizendo que está arriscando quando, na verdade, está fazendo um trabalho histérico e fora da medida. No caso de uma novela, geralmente as pessoas se acostumam e até passam a gostar. O erro faz parte do show. Eliminá-lo é impossível. Diminuir a margem de erro com estudo, dedicação e, principalmente, leveza e bom humor talvez seja o melhor caminho. Cada um escolhe o seu.
É uma profissão generosa, democrática e acolhedora. Qualquer um pode ser ator, basta saber falar, andar, ler e ter o juízo mais ou menos perfeito. Todos têm direito à tentativa e ninguém tira o lugar de ninguém. Fazer um bom trabalho de ator e permanecer digno praticando o ofício já são outros quinhentos, não é para qualquer um. A consciência de que somos inevitavelmente precários por sermos humanos pode ser um grande estímulo para fazermos trabalhos grandiosos. Viramos heróis, mendigos e uma infinidade de outros personagens, para, entre outras coisas, vencer a morte (eta coisinha incômoda). E, no final, conseguimos rir de nós mesmos.
Quero, por fim, agradecer aos meus nobres e loucos companheiros atores por percorrerem esse caminho inventado e que aumenta a vida, o prazer e o sonho. Quero agradecer aos grandes atores que já superaram o estágio dos adjetivos e conquistaram a liberdade plena da criação. Qual o adjetivo para Fernanda Montenegro, para Laura Cardoso? Quero agradecer também aos que estão começando, aos que estão terminando (se é que isso é possível) e aos que estão por vir.
Sou ator, acho que isso quer dizer alguma coisa.
Evoé!
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